PROJETO CALENDÁRIO 2021 [TRANS]*itoriedade

Desde 2017, estou com um projeto fotográfico com modelos transexuais, data essa que culminou em minha participação em uma exposição coletiva dentro da temática LGBTQIA+, na mostra “DIVERSA 2017: Expressão de Gêneros, Identidades & Orientações” realizada no Museu da Diversidade Sexual de São Paulo. Desde então, meu desejo ficou maior que eu, processando um olhar mais empático sobre a letra “T” dentro da diversidade Queer.

O projeto inicia em capturar o registro fotográfico com a fusão do universo da moda, com um olhar crítico sobre a pouca atuação de modelos transexuais femininas nesse cenário fashion até então. Tudo isso ocorreu também muito pela minha relação de proximidade com amigas, alunas, ex-alunas e modelos transexuais que fazem parte da minha rotina e vida. A primeira mulher trans e modelo a embarcar nesse projeto foi a querida Laura Janêz, iniciando a imagem, o lugar e a posição de fala no projeto.

Em paralelo, há mais outra perspectiva na mensagem que potencializa a narrativa deste trabalho em artes visuais. Onde por meio de interferências gráficas na fotográfica, através do bordado, procuro trazer o que converge elementos do corpo humano, sendo este corpo feminino ou masculino, bordando músculos, estrutura óssea humana, olhos, cérebro, coluna vertebral etc. Muito para dizer que na essência e internamente somos iguais, porém com características diferentes, pois todos temos uma mesma estrutura de crânio ou de músculos e ao mesmo tempo deixo latente os conflitos internos que uma mulher transexual passa em sua fase de transição.

O primeiro ensaio ocorreu em 2017 com a Laura e continua em uma série fotográfica, onde já na época dei título ao projeto de [TRANS]*itoriedade, pois continuarei dentro das minhas possibilidades, trazendo sempre mais voz, visibilidade, empatia, protagonismo a pessoas importantes na minha vida.

Porém só o ensaio fotográfico produzido em fineart analisei que seria pouco! Gostaria que houvesse mais acesso e engajamento para as pessoas ao projeto, além da contemplação da imagem de sua narrativa. Pois as fotos da série fotográfica inicialmente estariam apenas em galerias, museus ou editais de arte etc. Foi então que projetei trazer um desdobramento gráfico do suporte para disponibilizar o projeto e trabalho para mais pessoas, e com isso levar ao debate as relações humanas sobre a transexualidade para um público maior. Chegando ao calendário como suporte gráfico atribuindo a ele ao mesmo tempo arte e funcionalidade com sua aquisição.

Todas as imagens capturadas do projeto [TRANS]*itoriedade criam uma narrativa com a fusão da história da moda, relacionada com meu processo profissional e repertório, assim como também legitimando de forma enfática a permanência de pessoas transexuais em todos os momentos históricos da humanidade.

No segundo momento do processo fotográfico pós impressão, as imagens sofrem intervenções com bordados direto nas fotografias, que chamo de “Bordados Subversivos” pois volto a usar a linguagem do têxtil e moda, para conferir mais potência a manifestação artista enquanto expressão, e ao mesmo tempo subvertendo a relação amorosa do bordado, mas trazendo uma leitura mais provocativa. Pois somado a isso, nas imagens bordadas é exposto ícones sobre a representação do feminino e do masculino, para propiciar essa reflexão do que é da performance do feminino ou do masculino? Do que está engessado socialmente nessas padronizações e rótulos!

Em tempos de isolamento social e mudanças impostas no comportamento humano devido à pandemia do COVID19; em tempos de crise da rotina, onde todos desejam o futuro, um amanhã repaginado, onde esperamos uma vacina, um milagre ou um ano realmente novo; nada melhor conceitualmente que projetar na velha folhinha de calendário de parede a ideia de que melhores dias virão! Acrescentando esse olhar sobre melhores vidas, futuro e o desejo de melhor empatia entre os pares, as pessoas, a humanidade.

Em tempos de isolamento social e mudanças impostas no comportamento humano devido à pandemia do COVID19; em tempos de crise da rotina, onde todos desejam o futuro, um amanhã repaginado, onde esperamos uma vacina, um milagre ou um ano realmente novo; nada melhor conceitualmente que projetar na velha folhinha de calendário de parede a ideia de que melhores dias virão! Acrescentando esse olhar sobre melhores vidas, futuro e o desejo de melhor empatia entre os pares, as pessoas, a humanidade.

A [TRANS]*parência na pluralidade do corpo, na fluidez de gêneros, na sutileza da epiderme e no tecido que reveste. A narrativa expõe a [TRANS]*mutação continua que todos sofremos, as [TRANS]fobias sociais e as violências destes corpos; a [TRANS]*itoriedade mental, intelectual, sexual e corporal.

Ser [TRANS]*gênero e sua fluidez libertadora.

O ensaio tem a narrativa fictícia e autoral com uma linha do tempo histórica das silhuetas, shapes da vestimenta que contornaram corpos femininos ao longo do tempo e macrotendência Free Gender; libertando contornos e criticando corpos não livres, mas que na realidade estão permanentemente em trânsitos, como suas vestes, histórias e realidade. Aqui ou em épocas remotas, mas sempre presentes! Enfim; [TRANS]*itoriedade!

O destino da arrecadação do projeto [TRANS]*itoriedade, com sua aquisição através da “vaquinha” online e a venda do calendário 2021 será direcionado 50% do valor para beneficiar uma das casas de acolhimento a mulheres transexuais em estado de vulnerabilidade social da cidade de São Paulo. O Restante dos 50% para custos de impressões e gastos de montagem e distribuição.

A Casa Florescer é essa casa que aderiu ao projeto. Um centro de acolhida especial para mulheres transexuais.

O espaço acolhe cerca de 30 mulheres transexuais e travestis em situação de vulnerabilidade social. Elas são acolhidas em regime integral, com moradia, atendimento social e psicológico. Através da articulação de redes que buscam pessoas que possam ministrar oficinas temáticas, capacitações orientações.

Em visita a Casa Florescer tive a oportunidade de conhecer mais o trabalho social e as reais protagonistas, nesse lugar de fala, podendo transferir meu projeto em benefício a uma rede de suma importância social.

Por meio do responsável da casa de acolhimento, Alberto Silva, mais conhecido como Beto, obtive essa parceria para ainda mais ter convergência sobre a temática X o projeto.

Concepção Criativa (fotografia, styling e bordados): Marcos Rossetton
Modelo trans: Laura Janêz (1º ensaio do projeto para esse calendário 2021)
Scouter: Artur Schultz
Produção de moda: Cátia Cilene Bertolino e Marcos Rossetton
Designer gráfico: Ligia B. Diogo.
Apoio: Brechó Minha Avó Tinha
Parceria: Casa Florescer